A última tentação de Cristo (com revisão de Edi Silva)
Fotograma do filme "A última tentação de Cristo - Martin Scorcese"
Jesus parecia ter consciência de que seria o pivô de uma revolução comportamental a surgir a partir da sua doutrina. Sabia que a sua missão teria importância capital na formatação de uma nova linguagem e comunicação íntima com o sagrado, a linguagem do amor ao próximo. Mas a história sugere que partes do acordo feito com o pai celestial não estavam totalmente claras e, em algum momento, escapou a percepção de que um grande sacrifício deveria ser feito.
Para que houvesse o impacto necessário e a mensagem se perpetuasse através dos milênios, a própria vida deveria ser perdida de forma indigna e dolorosa. Não é de causar espanto que Jesus tenha titubeado ao saber disso, afinal, ele era tão humano quanto eu e você. Sendo assim, dirigiu-se ao jardim de Getsemani onde se prostrou em oração e rogou a Deus: "Pai, afasta de mim este cálice de vinho tinto de sangue" e seguiu: "Que seja feita a sua e não a minha vontade".
Esta narrativa representa um evento que pode ter acontecido ou não, já que não há provas insofismáveis da existência de Jesus, mas,mesmo assim, jamais perderá, de nenhuma forma, a importância e a qualidade do uso prático da doutrina cristã (aqui eu me refiro à única supostamente transmitida diretamente por Jesus) fortemente apoiada em conceitos posteriormente desenvolvidos pela psicologia moderna. Jesus nos mostra como nos comportamos em momentos quando tudo está perdido e não há saídas. As paredes da construção que formam a nossa vida, a nossa casa, a construção mental que é a nossa realidade, desabam sobre nossa cabeça e face ao destino que se projeta a frente, tentamos desesperadamente nos livrar da responsabilidade imputando a culpa a outra pessoa: "que seja feita a sua e não a minha vontade". A negação, a aceitação, a revolta e, por fim, a resignação, sem seguir esses passos não conseguiremos nos livrar do laço do egoísmo.
Entender a própria história e aceitar que somos o resultado de tudo que fizemos, a consequência das nossas escolhas, é fundamental para podermos andar para frente sem olhar para trás, mesmo que o caminho seja tortuoso, pois assim entenderemos que temos responsabilidades para com as nossas ações e aqueles a quem elas afetam. Por fim, devemos sempre estar atentos (orai e vigiai) para não cair na tentação de depositar nas costas alheias a responsabilidade que é apenas nossa.
Débora Zimmer
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