Aquendar ou a quem dar - eis a questão!
"No dicionário pajubá aquendar signifia "esconder a neca", técnica usada pelas travestis, mulheres trans, gays etc para poderem vestir calcinhas."
Eu sou capaz de imaginar o que passa na cabeça de algumas pessoas quando alguém resolve assumir-se transgênero. É comum nos comentários que recebo dizerem coisas como "Vá ser feliz", o que é um bom conselho embora paire no ar uma insinuação de que essa decisão tem a ver com questões de ordem sexual e a felicidade de uma pessoa deva estar diretamente relacionada a isso. Devem pensar "Ih, soltou a franga" ou "Vai dar pra Deus e o mundo".
Grande parte da sociedade ainda não entende que transgeneridade se trata de uma imposição de natureza psicológica sobre o corpo. A pessoa transgênero, seja homem ou mulher, não se reconhece no seu corpo físico, é uma questão de identidade e a sexualidade está em outro local do cérebro e do corpo. A forma como a pessoa reage a estímulos sensuais, venham eles do sexo oposto ou não, não tem necessariamente a ver com a sua identidade de gênero. Nem sempre a libido acompanha a orientação de gênero, e como não conheço a experiência de outros, nunca vivi na pele de outra pessoa a não ser eu mesma, só posso falar da minha experiência pessoal.
O que me fez assumir a transgeneridade foi a impossibilidade de continuar vivendo como se fosse outra pessoa, interpretando um personagem que não era eu de verdade, não foi um impulso sexual desenfreado dirigido a pessoas do sexo oposto. Uma coisa eu sei com certeza, muitos amigos e amigas estão se roendo de curiosidade para fazer a pergunta de um milhão de reais. Alguns até já fizeram e eu respondi da forma como vou deixar claro aqui. Eu ainda não estou certa a respeito da minha orientação sexual, e não estou nem um pouco preocupada com isso agora. Ainda é cedo para isso até porque relacionamentos foram experiências que me decepcionaram muito nos últimos anos. As pessoas simplesmente prometem coisas que não vão cumprir em relacionamentos que, em tese seriam baseados na confiança que é quebrada logo nos primeiros dias e quando você resolve admitir que nunca foi respeitada 20 anos se passaram e tempo demais foi desperdiçado em vãs tentativas de estabelecer um mínimo de harmonia. Não sei se isso vai acontecer de novo, quando, como e com qual gênero.
Pode parecer que eu passei a odiar relacionamentos e pessoas mas, é o contrário. Explico: Em primeiro lugar assumir a minha condição me tirou um grande peso das costas, estou muito mais leve porque não preciso mais me esconder. Isso também me abriu as portas da percepção de forma que eu enxergo hoje a realidade de uma outra maneira, eu enxergo as pessoas de outra forma. Pessoas são entes e não corpos. Eu vejo e aprecio a beleza das pessoas independente de gênero, não tenho mais amarras sociais e culturais machistas burras. Eu as compreendo melhor em seus dramas pessoais porque eu mesma sofri as penas do inferno e agora posso facilmente me colocar no lugar do outro. Por isso também aprendi a valorizar os relacionamentos verdadeiros e sinceros entendendo que é uma decisão difícil de se tomar quando se consegue minimamente antever as consequências decorrentes de uma escolha inapropriada.
Quem sabe um dia eu encontre alguém que queira compartilhar isso comigo? Mas terá que ser alguém que compreenda quem eu sou de verdade e esteja disposta a lidar com essa realidade. Eu sou uma mulher transgênero e uma pessoa com deficiência física com todas as dificuldades e desafios, mas também com todas as surpresas e benesses que podem decorrer dessas duas condições e não tenho mais nada pra esconder. A não ser...
Se vocês ficaram curiosos e querem aprender a aquendar a matéria a seguir ensina. Cliquem no Link
ResponderExcluirQuanta sabedoria há em suas palavras! :)
Vc é uma pessoalinda
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