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Mostrando postagens de junho, 2020

Se eu não sou quem eu sou então quem sou eu?

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     Eu poderia ter tido uma vida diferente da que eu tenho hoje. Poderia ter feito escolhas diferentes das que eu fiz. Isso me traria mais conforto pois eu poderia facilmente ter lançado mão dos meus direitos como deficiente e optado por uma vaga preferencial em um posto de trabalho em algum órgão público. Teria segurança, estabilidade e quem sabe tempo pra fazer outras coisas que desse sentido a minha vida. Isso considerando que eu fosse uma pessoa "normal". Então como cheguei ao ponto em que estou?       É preciso entender que uma coisa depende de outra e uma escolha desastrosa gera uma sequência de catástrofes seguidas. Apesar de não ter nenhuma deficiência cognitiva, sempre tive facilidade em aprender coisas, o ambiente escolar foi sofrível pra mim desde o primeiro ano. Eu não conseguia me adaptar, quando a professora falava comigo eu entrava em pânico e desabava a chorar. Não tive nenhum atendimento psicológico, a impressão que tenho hoje é que à época os professores ne

Não há verdade absoluta mas fatos são fatos

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                                             Foto de  Anderson Miranda  no  Pexels      Então é assim? A pessoa sofre com a disforia de gênero e logo é encaixotada e trancada em uma jaula junto com outras em condições diversas e todas recebem o rótulo de loucos. Pois é, minhas amigas e meus amigos. Eu já ouvi isso. E dói, dói muito... mas dói tanto que vocês nem imaginam.        E o que é isso que as pessoas chamam de loucura? "E aqueles que foram vistos dançando foram julgados loucos por aqueles que não podiam escutar a música" - Nietzsche.       Certa vez andando pela Ceilândia eu e outra pessoa (a qual preservarei a identidade) passamos em uma entre-quadras onde uma mulher supostamente moradora de rua dançava efusivamente ao calor do sol da tarde no meio da calçada. A pessoa disse em tom de deboche "Eita...essa aí tá doidona de nóia!!" ao que eu respondi "Como você sabe que ela está doidona, só porque está dançando no meio da rua? E se ela, apesar da situaçã

Se a vida te der limões...

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                                                Foto e Maquiagem: Vanessa de Lima      O peito aperta, o coração dispara, o estômago dói, o ar falta, os pensamentos rodopiam dentro da cabeça, é um verdadeiro brainstorm. No momento em que eu escrevo essas palavras mal consigo ordenar minhas idéias, me obrigo a escrever porque parece ser a única coisa sensata, a única coisa que exige a minha atenção integral e funciona como uma tipo de mantra ou meditação. Quer saber se eu estou com medo? Eu estou apavorada!! Meu pensamento transita entre duas possibilidades, o medo da rejeição, de passar por ridícula ou "tocar o foda-se" e não ligar pra nada nem pra ninguém.       Não foi uma decisão fácil assumir minha transgeneridade, mais difícil ainda será daqui pra frente, é o que eu imagino. Mas aí eu lembro das mensagens de carinho e apoio que eu recebi dos meus amigos e a dor no peito alivia. Eu sou uma pessoa única, eu sei disso. Sei que certas coisas só eu posso fazer, fui forjada na

Introdução (vamos devagar com isso)

    Olá amores, meu nome é Débora Zimmer. Sou uma mulher transgênero, nasci com o corpo biológico masculino mas muito cedo me identifiquei com o sexo oposto. Também ainda criança contraí poliomieleite e desenvolvi sequelas me tornando deficiente. Muita água passou por baixo dessa ponte e hoje, depois de tantos anos de sofrimento me aceitei como realmente sou. Muitas pessoas pessoas fizeram, fazem e farão parte dessa história. Tudo isso e muitas outras coisas serão contadas nesse blog que tem por objetivo entre outras coisas debater sobre as dificuldades que cercam a vida de uma pessoa transgênero em especial quando esta também é deficiente físico. A luta é dobrada mas sem ela a vida não teria graça, não é? Beijos.