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Surge uma heroína trans...

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  E eis que surge uma heroína trans... Heroína porquê? Ser mulher em um país como o nosso já é por si só um ato de heroísmo. Ser mulher trans então, nem se fala! Meliphera (Appis) é uma garota trans de meia idade. Diz-se garota porque toda trans é uma, independente da idade. Sendo uma millenial nascida no ano de 1999 completou 39 em 2038, ano de referências de uma das suas incríveis aventuras (ou seria desventura?) e começa a atravessar a inevitável crise da meia idade, tarefa um tanto difícil para quem tem sobrevivido às idas e vindas de um sistema sócio-político caótico acompanhado de uma epidemia que parece nunca ter fim. Essas são as principais características da realidade a qual ela está inserida em um futuro distópico próximo. Meliphera fez uma transição tardia, depois de vários relacionamentos heteronormativos frustrados finalmente entregou-se ao estudo da causa de sua agonia e entendeu-se mulher. Por esse motivo não conseguiu adquirir uma forma totalmente feminizada para o seu

O pudim de leite condensado - Guloseima tóxica?

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       Abri a geladeira e lá estava ele. Enviado pela esposa de meu irmão, uma baianinha que é uma doçura de pessoa, não sei se para mim ou para meu outro irmão (provavelmente para nós dois) aquela guloseima repousava alí, com sua calda suculenta a me seduzir.        Algumas pessoas que me conhecem muito bem, até bem mais do que eu me conheço sabem que a tal iguaria é uma das coisas mais desejadas no meu cardápio somente estando em pé de igualdade com o bolo com cobertura de abacaxi (aquele que a minha sobrinha Viviane faz com tanto esmero e capricho, uma verdadeira obra de arte da culinária).       Foi impressionante a explosão de sensações prazerosas nas papilas gustativas ao entrar em contato com a sobremesa tão dedicadamente preparada, tanto quanto inevitável o irromper das memórias afetivas relacionadas à tal experiência gastronômica.       Havia uma pessoa igualmente especializada na preparação do citado doce que aqui vou preservar a identidade por questões óbvias. A pergunta é:

Eu não vou dar um único passo atrás. (com o auxílio luxuoso de Edi Silva)

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      Tenho orgulho de ter tido a coragem de assumir a minha transgeneridade e ingressar na comunidade LGBTQI+ em um momento especialmente complicado da história deste país. Não só porque a situação complexa em que eu me encontrava na vida exigia uma tomada de decisão radical que abarcava questões de psicologia, saúde e sobrevivência, mas também porque o Brasil, o país onde eu nasci e cresci, a minha pátria mãe, em um momento tão delicado, precisava de seus filhos mais despertos. Uma horda de zumbis pseudo nacionalistas, pseudo cristãos e pseudo cidadãos de bem saíam de seus esconderijos vestidos de amarelo para tomar as ruas e instituições. Essa doença social chamada fascismo precisava ser combatida e cada pessoa consciente de sua responsabilidade social sentiu e ouviu o chamado. Muitos, entretanto, se acovardaram e preferiram o conforto do silêncio, pois é mais fácil passarem despercebidos quando ninguém sabe o que eles pensam.     Não tenho orgulho entretanta, de ser deficiente, iss

Pink Floyd - The Final Cut e o legado de uma época

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        *Observações no final       Revisão: Edi Silva      Pode ter sido em 1984. Embora não costumasse aportar nas praias tupiniquins produtos recém lançados no exterior, havia acabado de chegar às mãos do meu irmão, através do seu patrão, pessoa culta que lhe emprestava discos subversivos para a época, o álbum The Final Cut da banda inglesa Pink Floyd. A audição me cativou quase instantaneamente por motivos que vou tentar explicar mais tarde. Meu irmão, ainda ingênuo com as particularidades do mundo rocker, havia levado uma fita K-7 Scotch Dynarange de 60 minutos para gravar a novidade, tendo destinado apenas um lado dessa para o registro (não me lembro o que tinha do outro lado). A fita tinha a duração de 30 minutos por lado e em um só não coube o disco inteiro, ficando de fora as 4 últimas canções.       Assim eu ouvia com frequência essas canções que muito me agradavam. Algo chamava a atenção, porque, na mesma época, eu costumava ver TV com meu pai e sempre víamos dois programas

O "Peruísmo" e a sua contribuição no combate à homofobia/transfobia

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     Imagem: portal RD1      Eu tive um irmão gay. Ele se foi em 2001 por causa de uma complicação respiratória causada pelo HIV. Sim, ele era soropositivo. Contraiu o vírus em um de seus relacionamentos no tempo em que morou em São Paulo onde foi trabalhar e morar para fugir dos olhos críticos da sociedade e da família que nunca aceitou a sua condição. Nos últimos dias da sua vida breve morou comigo e nesse curto período me contou muito sobre suas impressões a respeito da vida e suas peripécias amorosas, coisa que eu nunca quis saber mas, como eu costumo dizer, as pessoas precisam falar e nós não temos o direito de lhes negar essa necessidade. Ouvir o outro é um gesto de amor e humanidade, você não precisa concordar, apenas ouvir.       Eu e meu irmão tínhamos um amigo em comum, que também é gay mas achava que ninguém sabia, tirava pinta de machão e dava encima de minhas amigas. Caçoávamos dele com veemência! Tempos depois ele assumiu. Ambos tinham um costume em comum, cada um a sua m

Mãe

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                                                           Foto de  Askar Abayev  no  Pexels     Em 1988 eu era uma adolescente de 16 anos que tinha acabado de resolver um mal entendido entre a minha mãe e a junta médica que acompanhava o meu desenvolvimento em decorrência das sequelas da poliomielite. Minha mãe, uma pessoa muito simples e sem instrução cujos valores eram calcados na sua formação católica havia me repassado desde criança uma informação dada a ela pelos médicos de que em algum momento até os 18 anos de idade eu poderia recuperar meus movimentos e voltar a andar sem o uso de órteses. Apesar da crença fervorosa que a mantinha esperançosa eu mesma nunca acreditei de fato nesse hipótese já que tenho e sempre tive uma mente científica. O empirismo demonstrava inequivocamente que não haviam traços de recuperação que justificassem tal expectativa e como nesse momento eu já me virava sozinha, ao ir em uma dessas consultas de rotina eu resolvi perguntar ao médico se essa informa

A esperança venceu o medo

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      Foto: Ricardo Stuckert (eu acho)     Acordei... levantei, lavei o rosto, preparei o desjejum, trabalhei um pouco em alguma coisa e quando me dei conta era hora do almoço, fui à cozinha onde preparei a refeição, me servi, sentei-me na sala e liguei a tv, coloquei pra tocar o primeiro filme bobo que me apareceu... percebi que a anos não fazia isso.      Senti de verdade que algo estava mudando, talvez de forma sutil e quase imperceptível para a maioria das pessoas. Senti um grande peso se soltar das minhas costas, uma gigante e escura nuvem começar a se dissipar, senti se aproximar o fim de um ciclo de tortura e terror, de alguma forma o pior está passando.      Esse sentimento foi tão poderoso que eu não pude conter as lágrimas que caíram. Era como se eu pudesse ter de volta a inocência de uma criança que não precisa se preocupar com a perversidade do mundo, havia uma esperança novamente. A nossa jovem e frágil democracia tão duramente golpeada nos últimos anos, enferma que estava